O balanço de 2015 para o setor
brasileiro de tecnologia da informação e comunicação pode ser dividido
em duas etapas, avaliou hoje (28) o vice-presidente de Comunicação e
Marketing da Federação das Associações das Empresas Brasileiras de
Tecnologia da Informação (Assespro Nacional), Gerino Xavier. “O primeiro
semestre foi bom. Todas as empresas ficaram com seus indicadores em um
patamar confortável. No segundo semestre, começou o sentimento da crise
que, eu acho, é até muito mais grave que a própria crise”, avaliou.
Segundo o vice-presidente da Assespro
Nacional, no segundo semestre de 2015, os indicadores das empresas
brasileiras de tecnologia da informação e comunicação passaram por um
período de maior observação. “O fato é que o sentimento de crise
atrapalhou alguns negócios de algumas empresas”. A crise em si afetou de
forma mais direta as companhias que trabalham com o setor público. “Tem
estados que estão sem pagar seus fornecedores há alguns meses”.
Xavier observou, porém, que a crise
apresenta, por outro lado, um aspecto bom. Como a tecnologia é
transversal aos vários setores da economia, crises sempre acabam
trazendo oportunidades. “Crise precisa de mais controle, de racionalizar
custos, precisa aumentar a produtividade e isso só se torna exponencial
com o uso de tecnologias”. Para Xavier, o lado ruim disso é que o ciclo
de vendas aumenta e a dificuldade para se vender é muito maior.
Além do setor de compras públicas, o
vice-presidente da Assespro Nacional citou a construção civil e petróleo
e gás entre os setores mais prejudicados pela crise na área de
tecnologia da informação e comunicação. O setor da construção civil
devido à paralisação das obras públicas associadas ao escândalo
decorrente da Operação Lava Jato, já o setor de petróleo e gás, não só
pela queda de preço no mercado internacional, mas também pela crise em
torno da Petrobras.
Para Xavier, a tecnologia da informação e
comunicação é indutora do crescimento econômico. “Essa é uma afirmação
de caráter global”, destacou. Isso significa que para qualquer país
crescer, ele precisa usar tecnologias modernas e inovadoras. Xavier
lembrou que os países da América Latina que têm feito grandes
investimentos no setor para melhorar a qualificação de sua mão de obra,
para ampliar as exportações e tornar as empresas mais eficientes e
competitivas apresentam resultados melhores que os do Brasil, que adotou
medidas que foram na “contramão” dos avanços. Mencionou que a
desoneração da folha, por exemplo, tornou o Brasil menos competitivo que
seus vizinhos no continente. “Isso afeta a cadeia produtiva toda e leva
um tempo para a gente se estabilizar”.
Ano de reflexão
Para o presidente da Associação das
Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação Regional Rio de Janeiro
(Assespro-RJ), Márcio Lacs, o ano de 2015 foi um ano “de reflexão” para
o setor de tecnologia da informação e comunicação.
Apesar do cenário de dificuldades e
indefinições políticas e econômicas no país, Lacs destacou que o Rio de
Janeiro apresenta vetores importantes como a Olimpíada, que ocorrerá na
capital fluminense em 2016, e o setor de petróleo e gás. “Foi um ano bem
movimentado. Por um lado, algumas coisas andaram, outras não andaram
tanto. Mas sempre, para a informática, quando algumas coisas não andam,
não quer dizer que não seja bom para as empresas”.
Lacs observou que a otimização depende
sempre da tecnologia. Ele diz que os contratos são revistos, mas a
oportunidade de inovação se faz mais presente ainda para otimizar e
melhorar. “A gente vê processos sendo repensados e isso traz muita
oportunidade para o nosso setor”.
O presidente do Sindicato das Empresas
de Informática do Rio de Janeiro (TI Rio), Benito Paret, avaliou que o
estado “não foi muito bem sucedido” em tecnologia da informação este
ano. “Entre os estados do Sudeste, o Rio de Janeiro teve o desempenho
pior”, apontou. A quebra da cadeia produtiva de petróleo e gás gerou um
baque grande para muitas empresas. Outros setores da atividade
econômica, porém, tiveram desempenho positivo.
“Não temos ainda uma crise no setor de
tecnologia da informação e comunicação instalada no Rio de Janeiro”,
assegurou Paret, embora a situação aponte para uma estagnação,
principalmente nas empresas que estavam focadas na área de petróleo e
gás, incluindo as áreas naval e de logística. As outras empresas “estão
levando o barco”, disse o presidente do TI Rio. O ambiente de incerteza
macro no país impede que o setor arrisque fazer projeções para o próximo
ano.
Márcio Lacs reconheceu que para as
grandes empresas, 2015 não foi um ano positivo, porque a maior
contratante, que é a Petrobras, enfrentou sérias dificuldades. Já os
programas de startups (empresas inovadoras de base tecnológica) se
consolidaram no Rio de Janeiro. As médias empresas, que são empresas de
escala, estão se beneficiando mais das oportunidades que aparecem,
sinalizou o presidente da Assespro-RJ.
Perspectivas
Como o principal congresso mundial de
tecnologia da informação e comunicação ocorrerá no Brasil, em outubro do
próximo ano, o vice-presidente da Assespro Nacional, Gerino Xavier,
analisou que isso trará muita visibilidade para o setor. “Algumas
cadeias produtivas internacionais passam a enxergar o Brasil de forma
diferente e nós apostamos que no cenário da internacionalização, teremos
melhores indicadores”. No plano nacional, disse que ainda fica difícil
fazer prognósticos. “A ordem do dia é cautela”, sinalizou.
Embora seja considerado o sétimo maior
mercado de tecnologia do mundo, Gerino Xavier disse que o governo devia
apoiar mais o setor, porque garante emprego de qualidade que gera
riqueza para o país. Ele salientou que o Brasil ainda exporta pouco
software (programa de computador). “E quando alguém compra software,
está comprando inteligência. Inteligência é a melhor coisa para se
produzir, porque nós qualificamos o nosso povo. Quando a gente compra
inteligência, estamos penalizando nosso povo, nossos pesquisadores,
nossos profissionais”.
Na avaliação de Gerino Xavier, o Brasil
precisa ter políticas públicas que estimulem a criação de soluções de
softwares nacionais para diversas áreas, como saúde e segurança, por
exemplo. Falta uma política pública que aproxime a academia, o mercado
fornecedor e o mercado comprador. “E o ator indutor de tudo isso é o
governo”.
O presidente da Assespro-RJ, Márcio
Lacs, concordou que apesar da crise, o cenário para 2016 é de
expectativa otimista para o setor de tecnologia da informação e
comunicação do Brasil. “Nós vamos trabalhar para que cada um encontre o
seu espaço. A gente tem a sorte de trabalhar com algo que está vinculado
à inovação, à otimização. Acho que vai ser um bom momento para a gente.
Pelo menos, oportunidades vão existir”, concluiu.
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